2.10.16

O texto que se segue foi propositadamente escrito para a minha inauguração para o blog da editora Livros de Ontem, a qual lançou há 2 anos o meu Viajantes, disponível através deste link.

Eu não tenho jeito para escrever. Escrever textos em prosa não são – temo até em ter de dizer que nunca foram – a minha queda, a minha praia, a minha cena, o que lhe queiram chamar e aceitar o convite da Livros de ontem em incorrer no blog da editora, só será um desafio que, acredito, me fará desenvolver enquanto escritor (que nunca me considerei, antes poeta).
Com esta pequena introdução, declaro oficializada a minha (des)culpa por qualquer desinteresse no que possa surgir a partir de agora, em tudo o que seja assinado por mim.
Para início achei que me deveria dar a conhecer minimamente a quem me ler. Sou um adulto jovem que bate o pé contra o termo jovem-adulto e que tem por bandeira a ideologia da liberdade e do livre-arbítrio, incisivo e sem confissões religiosas associadas, puramente agnóstico e poeta que, acredito, já saibam, e muito do que escrevo tem esses temas por base e, mais ainda, o título deste texto inaugural.
Creio que é a nossa época numa palavra só. O umbiguismo, na minha opinião, deveria ser uma palavra a incluir nos dicionários porque, acredito, acontece muito na nossa cultura. Nós somos aqueles que, por terem tanta facilidade em aceder e obter acesso a tudo ao que dos outros é, pertence ou prova existência, mais disso nos abstraímos deixando que nos fechemos a nós próprios de tudo o que há volta exista.
Temos acesso à internet, podendo comunicar com tudo e todos a qualquer instante, mais acessível que o telemóvel, o telefone, o telégrafo, a carta… Temos acesso às inúmeras redes sociais que nada mais são que postos de promoção, pela exibição ou falta da mesma da nossa existência. Tudo, nos dias que correm é “qualquer-coisa-social” ou “etc.-e-tal-em-rede”. Ultrapassamos a definição de egoísmo e egocentrismo para chegarmos ao cume daquilo que todos temos e que, por ser o nosso centro gravitacional e início da vida de cada humano – o umbigo – se torna raiz para uma palavra ainda mais egoísta.
Olhando apenas para o nosso umbigo, vemos e focamo-nos somente a e em nós, embora cientes do que passa na visão periférica, desprezamos intencionalmente. Creio, até, que muitas das atitudes altruístas que vemos são, na verdade, exacerbações do umbiguismo. Pessoa X ajudou crianças em África, pessoa Y doou N para a Liga dos Amigos dos Pokémon Desabilitados, pessoa W dormiu com os crocodilos no Amazonas para libertar os touros de morte em Espanha. Chegamos a chorar hoje a desgraça dos outros para nos vangloriarmos de seguido que o que é nosso (ou meu) é que vale a pena.
Aqui são letras soltas, maiúsculas, simbolicamente incógnitas. Na vida fora daqui chegam a ter nomes próprios, individuais ou colectivos com nome individual acoplado, empresas ou instituições, organizações ou associações, que embora os nomes remetam para o conjunto, sabe-se – ou chegamos até a imaginar – que na realidade a ideia proveio de um para alimentar todo o seu umbiguismo, mais não fosse no meio de onde a ideia surgira.
Nas actividades de arte e/ou criativas, pode ser confundido ou equalizado a autobiografia, autorretrato, autodidatismo, autoqualqueroutracoisa. A diferença está, como nas colectividades, existir a imaginação e criatividade de mascarar o assunto, porque o umbiguismo é, aos olhos da sociedade, uma coisa feia, um oitavo pecado.

E sim, escrevo muito à base do umbiguismo, como retrato daquilo que somos. Tento não só autobiografar-me, mas biografar, em certos pontos, aquilo que mais somos hoje em dia. Umbiguistas.